Dados do Trabalho
Título
A UTILIZAÇÃO DA MASSA DO MESOCARPO DO COCO BABAÇU NA ELABORAÇÃO DE SORVETE
Introdução
Uma das maiores riquezas do Estado do Maranhão é o coco babaçu, que apresenta importância ecológica, econômica, social e política. Pode ser classificado como um produto extrativista vegetal, por que gera óleo para o consumo e para indústria e, além disso, pode se utilizar a palha e a casca para diversos usos como cobertura de casa, esteiras, adubo, artesanato, etc.
O coco babaçu (Orbignya speciosa), é constituído por quatro partes: epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoas. Atualmente o coco babaçu é coletado e descascado manualmente por mulheres e crianças, sendo uma grande fonte de sustento paras as famílias extrativistas da região Nordeste/Norte do Brasil.
Segundo Frazão (2001), registra-se a ocorrência de babaçus também no Suriname e na Bolívia (Beni, Pando e Santa Cruz), sendo estes em menor quantidade em relação ao Brasil.
As quebradeiras de coco babaçu são mulheres que desempenham um papel crucial nas comunidades rurais do Brasil, principalmente na região nordeste. Essas trabalhadoras desempenham atividades relacionadas à extração e processamento do coco babaçu, uma palmeira nativa da região.
Essas quebradeiras de coco babaçu preservam uma tradição antiga, transmitida por gerações. Seu trabalho não apenas sustenta suas famílias, mas também contribui para a manutenção de práticas sustentáveis. A coleta do coco babaçu é feita de maneira consciente, respeitando os ecossistemas locais.
De acordo com Perez (2012), é relevante ressaltar o papel significativo do babaçu nas comunidades de diversas áreas do Nordeste, especialmente no Estado do Maranhão, onde a economia está centrada nas atividades agrícolas e na extração desse recurso, sendo uma prática quase exclusiva das mulheres.
Esse grupo desempenha um papel significativo no empoderamento feminino. Ao liderarem atividades econômicas em suas comunidades, as quebradeiras de coco babaçu desafiam normas de gênero e promovem uma maior igualdade, proporcionando independência financeira às mulheres.
No entanto, essas trabalhadoras enfrentam desafios significativos, como condições de trabalho difíceis e a falta de reconhecimento adequado. A luta por direitos trabalhistas e ambientais é uma constante na vida das quebradeiras, que buscam melhorias em suas condições de vida e na proteção do meio ambiente, pois essas mulheres também movimentam a economia local em seus lugares de vivência, muitas vezes sendo a única forma de renda e de sair da pobreza extrema.
Silva (2011), afirma que dentro do cenário de disparidades sociais no processo de desenvolvimento, a pobreza emerge como um elemento distintivo em um mundo cada vez mais globalizado. De acordo com Jara e Souto (2001), a pobreza cresce diariamente em contraste com o contínuo aumento da prosperidade, que se concentra socialmente. Portanto, o eficaz mecanismo de geração de riqueza simultaneamente contribui para o aumento das desigualdades socioeconômicas, intensificação da exclusão e desafios coletivos decorrentes de sofrimentos físicos e morais.
A atividade das quebradeiras de coco babaçu não só tem impacto econômico, mas também social e ambiental. O manejo sustentável do coco babaçu contribui para a conservação da biodiversidade local e para a preservação de ecossistemas naturais. Por isso, a importância de inserir as questões ambientais nessa prática para preservação e a essa riqueza maranhense.
A modernização e mudanças nos padrões climáticos apresentam novos desafios para as quebradeiras de coco babaçu. Estratégias de adaptação e apoio governamental são cruciais para garantir que essa prática tradicional continue prosperando, proporcionando benefícios tanto para as comunidades locais quanto para o meio ambiente.
As quebradeiras de coco babaçu representam um exemplo vívido de como a tradição, o empoderamento feminino e a sustentabilidade ambiental podem coexistir, oferecendo lições valiosas para o desenvolvimento sustentável em contextos globais.
Por isso, a presente pesquisa, teve como objetivo estudar a forma como é utilizado o babaçu pelas quebradeiras e oferecer a possibilidade do uso do mesocarpo para a fabricação de um produto inédito: o sorvete. O babaçu é um recurso que gera trabalho para diversas pessoas na zona rural do estado. Porém, observa-se que, gradativamente, tem diminuído o espaço das quebradeiras de coco babaçu, o sorvete pode ser uma forma de gerar renda com valor agregado.
Material e Métodos
metodologia utilizada foi observação in loco; a entrevista feita junto as quebradeiras de coco babaçu, onde se observou a quantidade anos que já trabalham com o coco, a quantidade que quebram, o valor que ganha com quilo vendido e os diversos uso que fazem com esse produto.
Foi feito o registro fotográfico das etapas da pesquisa como o objetivo de mostrar cada ação a ser desenvolvida.
Próximo passo foi utilização do mesocarpo. Após extraído pedaços de mesocarpo, tirando os de cada casca com uma colher, o passo seguinte foi pisá-lo no pilão. Em seguida, peneirar, e posteriormente criar e testar a receita para sorvete, a partir da massa gerada pelo mesocarpo.
Nesse artigo, não divulgaremos mais detalhes da receita do sorvete, pois pretende-se conseguir uma patente desse produto, para que as quebradeiras de coco possam de fato pleitear geração de renda com a venda do novo produto.
Resultados e Discussão
A produtividade reduzida nos babaçuais está associada a diversos fatores, incluindo a alta presença de plantas não produtivas, a desproporção entre inflorescências masculinas e femininas em palmeiras adultas produtivas, e a idade das plantas. O babaçu requer um período de 10 a 12 anos para iniciar a produção, alcançando a maturidade produtiva entre 15 e 20 anos, conforme indicado por estudos anteriores (MAY, 1990; FRAZÃO, 2001).
Observou-se que a maioria das quebradeiras de coco babaçu, estão na ativa há mais de vinte anos, sendo que as mais jovens quebram o coco há vinte e dois anos e as mais velhas há trinta e oito anos. Isso mostra-nos, que muitas famílias vivem da venda do babaçu desde cedo ou utilizam como um complemento da renda.
O uso principal do babaçu, é a venda do coco quebrado e o uso do carvão feito da casca do coco. Assim percebe-se que o mesocarpo não é utilizado por quase cem por cento das quebradeiras, que afirmam se soubesse os benefícios e uso do mesocarpo utilizaria para ganhar uma renda extra.
Para Albiero (2007), a atividade de quebra do babaçu está intrinsecamente vinculada a questões de gênero. Por ser a única fonte de renda exclusivamente gerada pelas mulheres no contexto familiar, o trabalho de quebra adquiriu uma significativa conotação de liberdade no imaginário feminino.
A abertura do coco para extrair a amêndoa é designada como "trabalho feminino". Ao considerar o tempo total dedicado por uma família à extração da amêndoa, 81% do esforço é realizado por mulheres e crianças, enquanto na agricultura, a participação masculina é mais expressiva. Por isso, a busca das quebradeiras de coco babaçu por aprimoramentos em seu ofício, e por oportunidades de conseguir gerar renda, a partir desse trabalho é uma busca constante e árdua, mas sem perder a esperança de dias melhores. Porto (2004), afirma que com o declínio do Parque Industrial, as quebradeiras de coco enfrentam ameaças devido aos baixos preços impostos pelo mercado. Em diversas regiões do estado, essa atividade tem perdido sua relevância econômica como fonte de empregos e renda, transformando-se em uma mera atividade de subsistência voltada para a extração de óleos e produção de carvão destinado ao consumo doméstico.
Dessa forma, é preciso incentivar as quebradeiras de coco a utilizarem os derivados do babaçu com valor agregado, se organizando em cooperativas e produzindo novos produtos à base do babaçu. De acordo com Soler (2007), até os dias atuais, o machado continua a ser o instrumento primordial na abertura do coco para a extração das amêndoas, sendo essa tarefa desempenhada por famílias rurais de baixa renda. A quebra do coco é um labor árduo e demorado realizado por meio de métodos extremamente simples.
O coco é posicionado sobre a lâmina, e são empregados golpes com um bastão ou um martelo até que tanto o mesocarpo quanto o endocarpo se fraturem, permitindo a remoção das amêndoas. Inicialmente, o coco é dividido em duas partes e, subsequentemente, as seções continuam a ser processadas da mesma forma até a completa liberação das amêndoas. A massa do mesocarpo do coco babaçu é a camada fibrosa e carnosa que envolve a semente ou amêndoa do coco. Essa parte do fruto é uma fonte significativa de fibra e nutrientes. A textura da massa do mesocarpo é geralmente mais firme em comparação com outras variedades de cocos, como o coco comum. A extração da amêndoa do babaçu muitas vezes envolve a remoção e processamento dessa massa fibrosa para acessar as amêndoas internas. Além disso, o mesocarpo do coco babaçu é frequentemente utilizado em práticas tradicionais, como na produção de artesanato ou na fabricação de adubo orgânico, contribuindo para a utilização sustentável de diferentes partes desse importante recurso natural.Fica visível que as quebradeiras de coco babaçu começam cedo esse ofício, mas a maioria não lucra o suficiente para viver, ficando sempre a necessidade de complementar a renda, sendo o valor arrecado muito abaixo de um salário-mínimo, por exemplo. Como observado nos gráficos acima, muitas das mulheres quebram uma média de 5 kg de coco por dia, o que daria uma média mensal de 30 kg, que dará um pouco mais de 120 reais, portanto, muito pouco para tanto trabalho, e o uso principal que fazem é da casca, como citado anteriormente, para a fabricação do carvão como fonte de energia.
Portanto, diante desse estudo, analisou-se que o ganho dessas quebradeiras de coco, seria muito maior se utilizassem os derivados desse produto como forma de valor agregado, como o sorvete produzido, ao qual mostrou que tem força para competir com sabores já conhecido, necessitando apenas de apoio financeiro e aparato de uma cozinha industrial para fabricação do referido sorvete.
Conclusão
Propõem-se que as quebradeiras de coco babaçu, conheçam as propriedades do mesocarpo e a partir disso, possam criar produtor (como o sorvete) que contribuam para sua renda e consumo próprio, algo, como já exposto, inédito.
Sugere-se também, que sejam criadas cooperativas das quebradeiras de coco na comunidade pesquisada e que consigam o registro de patente do soverte para se agregar mais valor ao produto do seu sustento e outros produtos que venham a ser criado, possibilitando também dessa forma, expandir para outros estados do país.
Para o sorvete especificamente há a necessidade uma cozinha com equipamentos adequados para a produção do mesmo, em caráter industrial e em larga escala, obedecendo as normas de higiene e da vigilância sanitária.
É possível, portanto, adquirir uma renda extra com a fabricação do sorvete e até outros subprodutos que possa ser criado com a massa do mesocarpo, agregando-se valor ao coco e oferecendo maiores oportunidades de lucro. Contribuindo, dessa maneira, para uma melhoria na renda e qualidade de vida das quebradeiras de coco babaçu.
Área
Alimentos não convencionais: fontes alternativas
Autores
RODRIGO DE SOUZA PINHEIRO, José Aglailton dos Santos Monteiro, Luis Eduardo da Silva, Thiago Ferreira Soares